sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dito Por Um Cegueta


Com os comments a ficarem tão preenchidos, decidi colocar este pequeno texto
Não é uma resposta.
É mais um impeto.
Se calhar sou Camões, Stéphane Miroux, Henry Letham, Jim Kurring, ou outra personagem danificada qualquer.
Ao menos sou.
Sou danificado.
Não me sinto mal com o que sou, nem crio ilusões daquilo que sou.
Na verdade, é mais fácil fazermo-nos passar pelo que não somos.
E é muito mais difícil sermos nós próprios. Sermos verdadeiros. Não termos medo em sermos nós.
"Perder qualquer esperança era a liberdade..."
Gosto muito desta frase.
Aliás, quando a ouvi pela primeira vez, senti-me perante uma ideia que me transcendia e pensei muito nela.
Mas isto quer dizer o que? Que se eu me fechar de tudo, se for algo que não sou, vou atingir a liberdade? De que forma? Tornando-me em alguém que se esconde e desiste de sí próprio e mesmo assim quer ser livre.
A primeira liberdade que temos de ter é a liberdade de nos sentirmos bem com nós mesmos.
De nos sentirmos livres em SER.
E infelizmente essa liberdade nem sempre é fácil de conseguir, eu sei.
Mas só a encontramos a olhar para dentro.



É assim que eu acredito que as pessoas crescem.
Se o que transmiti não foi de acordo ao que sentem sobre este problema, não é nenhuma surpresa. A mente humana é um universo. E num universo tão grande de possibilidades, espantado ficava eu se houve um acordo total.
Todos são livres de pensarem.
Sentirem.
Discordarem.

5 comentários:

Anónimo disse...

completamente de acordo! cada um é livre de pensar o que quer que seja, o pensamento é a única acção humana que não tem limites físicos, sociais, politicos, ou ideologicos!

E como uma vez disse Jean Jaques Rousseau "Liberdade é obediência às leis que a pessoa estabeleceu para si própria" - ou seja, os limites da nossa liberdade residem na nossa responsabilidade enquanto leis!

No entanto, ser livre implica ser diferente, pensar diferente, existir diferente, por sua vez leva ao isolamento (não em sentido literal), é uma espécie de realidade inter-humana própria, mas que simultaneamente tentamos que outros a percebam!

"A liberdade é a possibilidade do isolamento!" - Pessoa

daniel r.

smølænsky disse...

R, acho que com esta tua pequena analise, já estamos quites.
Eu armei lá a confusão com os fuzileiros, e agora tu viraste isto tudo ao contrário.
Deixa ver se eu consigo dar mais uns pontapés em forma de frases.



Ser livre implica PUDER ser diferente, pensar diferente, existir diferente.
Concordo completamente.
Leva ao isolamento, pois cria-se uma realidade inter-humana própria.
Com certeza que sim.
Não mentiste.


Agora pensemos assim.
O que é que isso interessa se o meu pensamento livre leva-me à desilusão, ao desconhecido, à incerteza, ao medo, à isolação??
Interessa TUDO!!!!
O pensamento livre leva-nos a questionar. A duvidar. A racionalizarmos aquilo que quisermos.
E isto tudo gera um consequência vital: APRENDER.
Só pudemos ficar a conhecer-nos melhor, a sentirmos mais profundamente, a percebermos mais conscientemente o que somos no meio deste emaranhado de fios que é a vida.
Que é a realidade.
Eu citaria a dita frase de Pessoa e acrescentava-lhe o que lhe falta:


"A liberdade é a possibilidade do isolamento, da diferença.
É a possibilidade de ser o EU."

Platão disse Não disse...

sim, o pensamento é uma das formas, que através da refleção e discussão sobre a acção, é capaz de gerar saber/aprendizagem (é a chamada acção-reflexão) aliás se virmos bem a coisa, só aprendemos pq possuímos racionalidade que nos permite tal, ou seja, não há aprendizagem sem reflexão ou pensamento se quiseres. Agora, que tais acções intelectuais levam-nos ao incerto, dúvida, angústia existencial, à desilusão... mas isso faz parte da nossa existência e antropologicamente já nos acompanha desde sempre, ou seja, desde o 1º sapiens. "Pensar exige correr riscos" - riscos qt a um presente duro e a um futuro que desconhecemos, mas sp espaços temporais em que nos movimentamos, pq nc reflectimos sobre tempos e espaços em que não estamos presentes, somos incapazes de fazer isso! É algo que intriga muita gente, mas é verdade e simultaneamente percebe-se da mesma forma de 1+1= 2, ao reflectir estamos constantemente a atribuir significado (é isto que por vezes gera a desilusão que falaste) significado esse que é intimamente nosso =)

daniel r.

Anónimo disse...

Tenho de completar a frase: "Perdida no esquecimento, escura, silenciosa e completa encontrei a liberdade... Perder qualquer esperança era a liberdade..."

Avassalador!
E uma absoluta verdade inegável...

(",)

Anónimo disse...

Revejo-me em muitos dos teus pensamentos. E que não me revisse!... Os teus posts passaram a fazer parte das minhas leituras habituais.

"Malgré tout" - esta é para dar um ar de erudito - continuo a não ser capaz de ficar indiferente quando a forma das palvras não está à altura do seu conteúdo.

Como dizia Bernardo Soares "Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha."

Exageros de poeta!...

Fossem os teus posts vazios e sem sentido, fosse a tua vida coisa pouca para mim e eu seguiria em frente sem te dizer sequer olá.

Mas pelo respeito e admiração que nutro por ti, sou forçado a dizer-te que "ser livre implica PODER ser diferente..."

Maldito vício! Sou pior que o leão surdo. Onde chego, dou sempre cabo do concerto.